Engraçado perceber, quando há tempos atrás, eu pensava na ideia de comunidade, a primeira coisa que vinha à cabeça eram aquelas que eu costumava integrar no extinto Orkut: “Lindomar: o Subzero brasileiro”, “batia campainha e corria”, “Não fui eu, foi o meu eu lírico”, “Eu sou legal, não tô te dando mole”… Ainda que seja com esse exemplo assaz esdrúxulo, percebo que é assim que, de fato, as comunidades se constróem: indivíduos que convergem para um mesmo ambiente em razão da existência de uma afinidade comum que proporciona a identificação de seus semelhantes. Naquele tempo a mera familiaridade com o título engraçado ou com a supérflua descrição que aquelas comunidades virtuais carregavam bastava para que as pessoas se filiassem a elas. A somatória das comunidades das quais você fazia parte nada mais era que uma forma de expressão, de como você gostaria que as pessoas te percebessem ali. Contudo, o ambiente virtual, apesar de facilitar a disseminação de informações e, talvez por isso, a formação de uma rede espontânea linkando, quase que organicamente, pessoas que dividem um mesmo interesse, também traz a possibilidade do uso máscaras e da manipulação de dados pelos sagazes algoritmos, conduzindo a obstáculos para uma percepção verdadeira das pessoas que compõem junto de você um coletivo.
Hoje percebo que comunidade, para efetivamente carregar esse nome com a força que detém, deve ser construída prioritariamente num ambiente físico, real, cara a a cara, olho no olho, já que os laços são mais firmes quando estabelecidos de forma pessoal. Afinal como humanos, nossa intuição, no momento da conexão, conta profundamente para crermos de forma mais efetiva na coesão de uma comunidade e para seguirmos em frente, lado a lado, em prol de um interesse comum.
Não por isso o virtual perde seu caráter de importância. Sem qualquer dúvida, a força que a rede digital carrega é potente para a difusão de comunidades, mas não se sustenta por si só. Para que realmente sejam críveis e não superficiais como aquelas da época do Orkut, devem ultrapassar as barreiras do virtual e almejarem um resultado palpável, experimental, que traga ao mundo físico um anseio, uma mudança, uma transformação. É isso que move as pessoas e conquista mais adeptos.
A expressão “comunidade”, nos dias de hoje quase banalizada pelo seu excessivo uso, por vezes esvaziado, vem na realidade tomando contornos cada vez mais definidos, e, no frigir dos ovos, remete quase a uma tribo, organização indígena em que o material e o espiritual se misturam, em que protocolos concorrenciais tornam-se ritos colaborativos, em que profissão e propósito comungam entre si. A relação entre seus componentes se dá na base do mutualismo, da confiança recíproca. A construção dos processos é permeada de empatia, fortificando cada vez mais a noção da famigerada economia colaborativa.
E assim a gente segue… Co-criando, ressignificando conceitos, redefinindo relações e nos conectando cada vez mais com nós mesmos e com o outro, num contexto de troca, diversidade e horizontalidade. Afinal, de que vale empreender se não for pra crescer juntos? Vamos?
Texto de Grabriel Prata – “Entusiasta inveterado da escrita com propósito, da construção pelo coletivo e da transformação em comunidade.”
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